A Hégira (Anno Hegirae) - ou simplesmente hégira (do árabe "hijrah": separação ou exílio), que foi o epísódio da partida de Maomé e seus partidários de Meca para Yatrib ou Medina em 622 da era cristã é o marco inicial para a datação das moedas islâmicas.
É um calendário bem diferente do ocidental (calendário gregoriano) então, para situá-la no calendário ocidental, devemos fazer a conversão, uma vez que as duas têm inícios e contagens de tempo distintas.
O calendário islâmico baseia-se no ciclo lunar, surgido no ano 638 d.C. Foi uma forma encontrada de unificar os diversos calendários e formas locais de contar o tempo. O califa Umar Ibin Al-Khatab, que era companheiro do profeta Maomé, depois de longa consulta aos demais líderes,chegou a conclusão que a data inicial do novo calendário islâmico seria a Hégira ocorrida em setembro de 622 d.C, pois esse foi um dos fatos (ou o mais) importante do Islamismo.
Pois, assim como o calendário cristão tem início no nascimento de Cristo, o calendário Islâmico tem seu marco inicial na Hégira de Maomé. O nome "Hégira" costuma ser abreviado como "AH" ou "H", tal como se vê de praxe no catálogo Krause, que é o mais usado.
Assim como o calendário cristão, o árabe também tem 12 meses (lunares):
01 - MuHarram
02 - Safar
03 - Raby' al-awal
04 - Raby' al-THaany
05 - Jumaada al-awal
06 - Jumaada al-THaany
07 - Rajab
08 - SHa'baan
09 - RamaDHaan
10 - SHawwal
11 - Thw al-Qi'dah
12 - Thw al-Hijjah
"Para Deus, o número dos meses é doze, como reza o Livro Divino desde o dia em que Ele criou os céus e a terra. Quatro deles são sagrados; tal é o cômputo exato. Durante estes meses não vos condeneis, e combatei unanimemente os idólatras." (Alcorão 9:36)
Esse calendário não iria diferir muito do nosso, mas o cristão é solar e não lunar - daí o calendário árabe ser mais curto em 11 dias, além de não guardar nenhuma relação às estações do ano.
Diante do exposto, verificamos que ante essas diferenças, as datações entre os dois catálogos são algo distantes uma da outra.
OS ALGARISMOS INDO-ARÁBICOS
Esses algarismos eram bem mais evoluídos que os numerais romanos, já que estes impossibilitavam a prática de cálculos grandes, bem como não havia entre os ocidentais a ideia abstrata do zero. Surgiram na época de ouro do Islamismo, em Bagdá (atual Iraque), criados pelo matemático Al-Khwarizmi (c.780 d.C. - c. 850 d.C.) (daí algarismo), que trabalhava na "Casa da Sabedoria".
"Álgebra", do matemático Al-Khwarizmi
Foram trazidos ao Ocidente e adaptados pelo matemático italiano Leonardo Fibonacci (c.1170-c.1250).
Western Arabic | 0 | 1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | 9 |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Eastern Arabic | ٠ | ١ | ٢ | ٣ | ٤ | ٥ | ٦ | ٧ | ٨ | ٩ |
Perso-Arabic variant | ۰ | ۱ | ۲ | ۳ | ۴ | ۵ | ۶ | ۷ | ۸ | ۹ |
Também existem outras variantes, como as usadas no estado indiano de Hyderabad, por exemplo. Devemos atentar essas variações pontuais na datação das moedas.
"Estado Indiano nativo de Hyderabad"
"Variantes do extremo leste islâmico"
Então, ao analisarmos uma moeda, temos que ter em mãos a tabela de algarismos normais mais as variantes, já que sempre encontram-se mescladas, para que possamos chegar nas respectivas datas. Assim, primeiramente recorremos aos algarismos gerais, depois suas respectivas variantes.
FAZENDO AS DATAÇÕES
Ao pegarmos uma moeda árabe, iremos primeiramente identificar os algarismos e traduzi-los.
Com a data "H" (Hégira) em mãos, teremos de convertê-la para o nosso calendário. Existe uma fórmula matemática para a conversão:
Da data islâmica a ser convertida, tiramos 3% e depois somamos 622 (data inicial do calendário do Islã). Tomemos o seguinte exemplo:
H 1330:
3% de 1330 = 39,90 (arredonda-se para 40)
1330 - 40 = 1290
1290 + 622 = 1912 no calendário Gregoriano
Ou pode-se usar outra fórmula para converter nosso calendário no Islâmico:
Tira-se 622 (ano da Hégira) do ano que se quer converter, multipilica-se o resultado por 1,031 (nº de dias do calendário gregoriano dividido pelo nº de dias do ano lunar).
Exemplo, ano 2002:
2002 - 622 = 1380
1380 x 1,031 = 1422.
Sigamos com alguns exemplos:
Nesta moeda iemenita, a data está no reverso: 1382. Nessa peça, a datação é dúplice, pois temos a data islâmica e a data ocidental - 1963. Isso acontece usualmente nas moedas mais modernas, mas nem sempre será tão fácil.
Ocorre em algumas moedas mais antigas, que a data apresentada é a de "ascensão ao trono" de determinado governante, sendo dada além dessa data o "ano de reinado", o qual foi cunhada a moeda. Nesses casos, é necessário antes somar o ano de ascensão mais o ano de reinado para obtermos o ano da peça em questão.
Por exemplo:
Nessa peça egípcia, vemos a data de ascensão ao trono embaixo (1293) e a data do ano de reinado em cima (29). Assim, somamos os números e obteremos 1322 = 1904 de nossa era.
Mais um exemplo:
Nesta piastra turca, vemos o ano de ascensão num dos lados (1187) e no outro lado, o ano de reinado (8), somando teremos 1195 = 1780 de nossa era.
Veja esse exemplo:
Nesse Riyal iemenita, há duas datas - o ano de ascensão (1322) e o ano de cunhagem (1344). Nesse caso, considera-se a data mais recente: 1344 = 1925.
Eis um exemplo de variante da Pérsia (atual Irã):
O ano dela é H 1306 (data abaixo do busto), onde o "6" é a variante regional persa.
Um exemplo das moedas de hyderabad:
Na moeda nativa temos H-1366, data de ascensão ao trono, conjugada com o ano de reinado 37. Nela, verificamos que o "7" do ano de reinado é uma variante local.
Por fim, aos que dispõem do catálogo "World Coins", ou Krause, como é conhecido, no fim há algumas datas já convertidas para facilidade do colecionador.
**Agradecimentos ao colecionador e amigo Fabiano Oliveira, pelo fornecimento dos dados**
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