sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Damnatio Memoriae - A "Desonra" Retratada nas Moedas Romanas

Damnatio memoriae é a frase em latim que quer dizer "danação da memória", no sentido de remover da lembrança. Na Roma Antiga, era uma forma de desonra que podia ser passada pelo senado a traidores ou outros que trouxessem vergonha ao Estado romano, tarefa um pouco mais fácil, numa época em que os registros históricos eram mais escassos.

O significado da expressão damnatio memoriae e da sanção era cancelar todos os vestígios dessa pessoa da vida de Roma, como se nunca tivesse existido, para preservar a honra da cidade. Numa cidade que dava grande importância à aparência social, respeito e ao orgulho de ser um verdadeiro Romano como requerimentos fundamentais do cidadão, era talvez o castigo mais severo.

Ficheiro:Severan dynasty - tondo.jpg
*Tondo da família Severa, com retratos de Septímio Severo, Júlia Domna, Caracala, e Geta. A face de Geta foi apagada, por causa da damnatio memoriae ordenada pelo seu irmão e assassino Caracala.

PRÁTICA

Na Roma Antiga, a prática de damnatio memoriae era a condenação das elites romanas e imperadores depois das suas mortes. Se o senado ou um imperador mais tardio não gostasse das ações de um indivíduo, eles podiam confiscar a propriedade dele, o seu nome seria apagado e as suas estátuas reutilizadas. Contudo, visto que havia um incentivo econômico para confiscar propriedades e reutilizar estátuas de qualquer maneira, historiadores e arqueólogos têm dificuldade em determinar se houve damnatio memoriae em alguns casos.

Ficheiro:Sejanus Damnatio Memoriae.jpg
*Lúcio Élio Sejano sofreu damnatio memoriae depois de uma conspiração falhada para destronar o imperador Tibério em 31. As suas estátuas foram destruidas e o seu nome obliterado de todos os registos públicos. A moeda mostrada de Augusta Bilbilis, cunhada para marcas o consulado de Sejano, tem as palavras L. Aelio Seiano apagadas

A prática de damnatio memoriae era raramente, se alguma vez, uma prática oficial. Uma damnatio memoriae verdadeiramente efetiva não seria notada por historiadores mais recentes, visto por definição qualquer menção da pessoa seria apagada do registo histórico. Contudo, visto que todas as figuras políticas tinham aliados além de inimigos, era difícil implementar a prática completamente. Por exemplo, o senado queria condenar a memória de Calígula, mas Cláudio impediu isto. Nero foi declarado um inimigo do Estado pelo senado, mas depois teve um funeral enorme para o honrar depois da sua morte, organizado por Vitélio. Enquanto estátuas de alguns imperadores foram destruídas ou reutilizadas depois da morte deles, outras foram erigidas. Historiadores às vezes usam a frase de facto damnatio memoriae quando a condenação não é oficial. Algumas pessoas que sofreram damnatio memoriae foram Sejano, que conspirou contra o imperador Tibério em 31, e mais tarde Livila, que foi revelada como sendo sua cúmplice. Os únicos imperadores conhecidos que receberam uma damnatio memoriae oficial foram Domiciano, e mais tarde o co-imperador Geta, cuja memória foi condenada pelo seu irmão co-imperador, Caracala, em 211.



*Medalhão de Caracalla e Geta que foi aplicada a damnatio memoriae apagando a face deste último. Cunhado em Estratonicéia (na atual Turquia, perto do que é hoje Istambul, no lado asiático). Tem 19'47 gramas e será leiloado em fevereiro por Ira & Moedas Larry Goldberg &, Collectibles Inc. por US$ 1,250 iniciais. No anverso, vemos o busto de Caracalla de fronte ao de seu irmão Geta, que foi apagado. Entre eles estão duas impressões sobrepostas, o busto com capacete de Atena e outro com 4 letras indeterminadas. No reverso, a deusa Hécate se apresenta à esquerda levando patera e tocha, com um cachorro aos seus pés.

Arquivo: Römermuseum Osterburken (DerHexer) 2012/09/30 008.jpg

*Damnatio memoriae de " Commodus "em uma inscrição no Museu de História Romana Osterburken . "CO" A abreviatura mais tarde foi restaurada com pintura


IMPERADORES ROMANOS CONDENADOS A DAMNATIO MEMORIAE

*Calígula                                
*Nero
*Domiciano
*Cômodo
*Clódio Albino
*Geta
*Macrino
*Alexandre Severo
*Maximino Trácio
*Gordiano III
*Filipe, o Árabe
*Décio
*Emiliano
*Galieno
*Aureliano
*Probo
*Caro
*Carino
*Numeriano
*Diocleciano
*Maximiano
*Galério
*Severo II
*Maximino Daia
*Maxêncio
*Licínio
*Constantino II
*Constante
*Magnêncio
*Magno Máximo

PRÁTICAS PARECIDAS NOUTRAS SOCIEDADES

1 - Os antigos egípcios davam extrema importância à preservação do nome de uma pessoa. Aquele que destruísse o nome de uma pessoa era visto como tendo destruído essa pessoa e isto era válido no mundo dos mortos.

2 - As cartelas do faraó herético Akhenaton da 18ª dinastia foram mutiladas pelos seus sucessores. Antes, nessa dinastia, ao reinar sozinho, Tutmés III havia ordenado um ataque parecido contra a sua madrasta Hatchepsut. Contudo, apenas as gravuras e estátuas dela como um rei coroado do Egito foram atacadas. Tudo o que a representava como uma rainha foi deixado intacto (a campanha acabou depois do seu filho ter sido coroado co-regente), por isso isto não foi completamente damnatio memoriae. Também há debates sobre Tutmés III ser o culpado, visto que isto aconteceu 47 anos depois dele se tornar faraó.

3 - No judaísmo, a maldição "Que o nome e memória dele/a sejam obliterados," (Hebraico: ימח שמו וזכרו , yimach shmo ve-zichro) é a pior maldição que um judeu pode dizer a outro.

4 - Heróstrato incendiou o Templo de Artemisa em Éfeso para se tornar famoso. Os líderes de Éfeso decidiram que o nome dele nunca mais podia ser dito, sob pena de morte.

5 - Adandozan, rei de Daomé no início do século XIX, prendeu o seu irmão Gakpe. Depois de se tornar no rei Guezo, ele vingou-se ao apagar a memória de Adandozan. Até hoje, Adandozan não é oficialmente considerado como um dos doze reis de Daomé.

6 - Marino Faliero, quinquagésimo-quinto Doge de Veneza, recebeu damnatio memoriae depois de um golpe de Estado falhado.

Arquivo: Local fazer Retrato de Marino Faliero nd Galeria dos Doges de Veneza.jpg
*Lugar na série de retratos de Doges de Veneza , dizendo: "Aqui é o lugar de Marino Faliero , decapitado por seus crimes "

7 - Exemplos mais modernos de damnatio memoriae são os actos de remover retratos, livros, remover pessoas de fotografias, e outros vestígios dos adversários de Josef Stalin durante o Grande Expurgo. Ironicamente, o próprio Stalin foi removido de uns filmes de propaganda quando Nikita Khruschev se tornou no líder da União Soviética, e a cidade de Tsarítsin que antes se tinha chamado Stalingrado foi chamada Volgogrado em 1961.

Ficheiro:Voroshilov, Molotov, Stalin, with Nikolai Yezhov.jpg
Ficheiro:The Commissar Vanishes 2.jpg
*Exemplo recente de uma prática parecida à Damnatio Memoriae: Uma forografia de Josef Stalin com o comissário soviético Nikolai Yezhov foi retocada depois de Yezhov cair em desgraça e ser executado em 1940.

*Fonte: Wikipedia

domingo, 20 de janeiro de 2013

A História do Dólar

A HISTÓRIA DO DÓLAR NORTE-AMERICANO RESUME-SE A UMA LONGA EVOLUÇÃO QUE LIVRA A DIVISA NORTE-AMERICANA DA DESORDEM INTERNA, TRANSFORMANDO-A NA PRIMEIRA MOEDA INTERNACIONAL.



*5 Cents de dólar, 1792

Durante a segunda metade do século XIX, a libra esterlina gozava da primazia como moeda internacional. De todas as suas possíveis rivais, o dólar norte-americano parecia ser a moeda que tinha menos possibilidade de substituí-la. Os EUA eram um devedor internacional não muito confiável, que necessitava de um banco central e, inclusive, de um sistema monetário unificado. A preponderância do dólar só se impôs no século XX, depois de uma história longa e inverossímil que deu lugar, finalmente, à criação de um organismo bancário central, a Reserva Federal, e converteu o dólar em uma moeda nacional garantida pelo governo federal.

O dólar tornou-se uma unidade monetária por decisão do Congresso dos EUA em 1785. Sua base era a piastra-dolera da América Latina, cujo nome derivava do thaler alemão.

Ao contrário dos sistemas monetários europeus, a Constituição dos EUA, adotada em 1789, nunca outorgou a exclusividade de emissão de moedas e notas ao governo federal. A falta de uma legislação monetária clara deu lugar a uma infinidade de meios de pagamento que circulavam praticamente sem nenhum controle ou respaldo de um organismo bancário central. Nessa situação caótica, as moedas estrangeiras tiveram curso legal até 1857, e ainda em 1901 uma mina de prata de Oregon continuava cunhando suas próprias moedas de prata para “uso comercial”.

 
*Exemplos de cunhagens particulares: Clark, Gruber & Co. US$ 2,5 em ouro, 1860


*Clark, Gruber & Company - Banco particular e casa de moeda, Oregon, século XIX


Como vários estados da União se encontravam na bancarrota por não poderem honrar suas emissões de papel-moeda, foram proibidos de emitir. Porém, nada os impedia de criar bancos, e estes podiam colocar cédulas em circulação livremente. Assim o estado de Kentucky fundou um banco privado, do qual era o único proprietário, e começou a efetuar pagamentos com suas cédulas. Essa tradição individualista em questões monetárias deu lugar a uma atividade bancária “descontrolada”, que se desenvolveu amparada por leis estatais muitas vezes extremamente complacentes (free banking laws) e que autorizavam qualquer indivíduo ou associação a abrir um banco e emitir cédulas, sem autorização ou controle algum.

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*Cédula de banco particular, estado da Georgia, meados do século XIX

A inexistência de um banco nacional obrigava o governo federal a fazer todas as suas transações através de estabelecimentos privados ou em espécie. Em 1840, o presidente Martin Van Buren criou o “sistema de Tesouro independente”, que se ocupou das operações financeiras do governo através de suas agências abertas em todo o território nacional. Mas o Tesouro não era um banco e não podia, portanto, emitir cédulas; todos os lucros e despesas governamentais tinham que ser efetuados em ouro ou prata. O Estado não podia custear desembolsos que ultrapassassem os impostos arrecadados, a não ser que recorresse à emissão de obrigações subscritas em ouro.

OS GREENBACKS

As necessidades de financiamento da Guerra da Secessão (1861-1865) deram origem a diversas disposições monetárias que permaneceram vigentes até o final do século. O Tesouro começou a emitir “notas à vista” (demand notes), que não tinham curso legal mas eram conversíveis em ouro. Não obstante, a escassez de reservas de ouro do Tesouro obrigou a suspender imediatamente a conversibilidade, e até o fim da guerra o financiamento pôde ser feito graças à emissão de notas do Tesouro (US Notes), respaldadas apenas na boa-fé e na reputação do governo. Elas eram chamadas popularmente de “notas verdes” (greenbacks), nome que ainda hoje o dólar norte-americano tem em todo o mundo.



 
 
*Algumas "Greenbacks" do fim do século XIX

A emissão das “notas verdes” estava limitada a 433 milhões, mas devido às crescentes dificuldades para obter empréstimos e ao crescimento dos gastos o secretário do Tesouro, Salmon P. Chase, decidiu aplicar em todo o país o sistema de livre criação de bancos, autorizado por uma lei de 1869, a National Bank Act. Essa lei autorizava qualquer grupo de cinco pessoas a constituir uma “associação bancária nacional” e emitir notas correspondentes  a suas obrigações do governo federal, depositadas junto ao Controlador da Moeda (funcionário do Tesouro responsável pelo desenho e emissão das cédulas).

Para impedir a concorrência entre essas notas e as dos bancos estaduais, estes últimos tinham que pagar uma taxa de 10%, o que logo os levou a sair de circulação. Os bancos estaduais contra-atacaram, oferecendo serviços de pagamento por cheque contra as contas em depósito, o que se mostrou um atraente substituto para as emissões dos bancos privados.

*Cédula de 100 dólares dos Estados Confederados da América, que prometia ao portador o pagamento "Dois anos após uma ratificação de um tratado de paz com os Estados Unidos"

Assim, no fim da Guerra de Secessão a extraordinária diversidade de formas de pagamento, representando as obrigações de milhares de bancos, haviam-se reduzido às “notas verdes” e às notas dos bancos privados (chamados national Banks), que não podiam ser convertidas em metal, mas cujo número estava estritamente limitado. Nos EUA a oferta monetária ficava rigidamente fixada; não podia se ajustar às flutuações dos câmbios, nem às frequentes ondas de pânico desencadeadas pela falência dos bancos carentes de regulamentação (dois anos depois da aplicação do sistema de livre criação de bancos, em Michigan, por exemplo, os 40 estabelecimentos bancários existentes haviam falido).

CICLOS AGRÍCOLAS E ESCASSEZ DE NUMERÁRIO

Por tratar-se de um país agrário, as necessidades de moeda dependiam do ciclo da colheita. Quando os agricultores vendiam seus produtos, os depósitos se acumulavam nos bancos das regiões agrícolas e provocavam uma escassez de fundos nos bancos das regiões industriais do Leste. Os national banks, não podendo ter sucursais, careciam de um mecanismo para canalizar os recursos excedentes. Como não havia um banco central para emprestar reservas, não havia nenhum meio de enfrentar essas flutuações, exceto mediante a modificação brutal das taxas de juros e a declaração de falências dos bancos. Essa situação, agravada pela grande absorção de numerário de um Tesouro independente e a falta de uma regulamentação bancária estrita, provocava instabilidade extrema e frequentes crises.

Para muitos, essa instabilidade devia-se à falta de numerário, que beneficiava os que estavam interessados em que a prata fosse a base do sistema monetário norte-americano. Foi assim que William Jennings Bryan lançou um movimento em favor da “prata livre” (free silver movement), com o objetivo de poder cunhar livremente esse metal como dinheiro legal. Em 1878 a lei Bland-Allison autorizou os bônus de prata do Tesouro, que se converteram em dinheiro legal em 1886. Em 1890 a Sherman Silver Act praticamente obrigava o Tesouro a adquirir a produção total das minas de prata dos EUA. Em 1882 foram adotadas medidas similares para os bônus de ouro, mas nenhuma delas deu à circulação monetária a flexibilidade esperada.

 
*Moeda de 20 dólares em ouro, cunhada em 1904

Esse sistema criou graves dificuldades, não só internas, como também internacionais. Na verdade, a única maneira de compensar os câmbios da demanda interna de numerário eram as operações no mercado mundial; estas, por sua vês, provocavam uma instabilidade no funcionamento do sistema monetário internacional. Isso foi o que aconteceu em 1893, quando se propagou bruscamente o medo de os EUA não respeitarem a conversão da dívida pública em ouro, saldando-a, ao invés disso, em prata, cujo preço nos mercados internacionais estava caindo, o que provocou uma fuga de ouro incontrolável e a falência de diversos bancos.

NASCIMENTO DA RESERVA FEDERAL

A fuga do ouro foi contida com a Gold Standard Act de 1900, que pôs fim ao bimetalismo, ajustou o dólar com firmeza ao padrão-ouro e obrigou aos bancos privados a terem um respaldo nesse metal para a emissão de notas. A quantidade de ouro nas mãos do público triplicou entre 1899 e 1910, como aliás a do Tesouro. O montante de ouro da reserva mundial correspondente aos EUA passou de 15% a 30%, ao mesmo tempo em que muitos outros países (Áustria-Hungria, Rússia, Japão...) adotaram também o padrão-ouro.

*Cédula de 10 mil dólares impressos pela Reserva Federal a partir de 1918

No sistema do padrão-ouro, que prevaleceu até a Primeira Guerra Mundial, as moedas, definidas por um peso em ouro, podiam ser convertidas livremente nesse metal. Os países que aderiam a esse sistema deviam manter reservas de ouro suficientes para garantir a conversão de suas moedas. No sistema padrão-ouro de câmbio, as reservas consistem essencialmente em divisas que, por sua vez, podem ser convertidas em ouro.

À medida que a oferta se desacelerou, a acumulação de ouro nos EUA causou mais dificuldades do que a fuga desse metal, em particular porque o ouro que entrava no Tesouro só podia ser utilizado para financiar o déficit do balanço de pagamentos (que apresentava então um superávit). O Tesouro, por ser um sistema independente, não estava apto a utilizar seu ouro como respaldo para emitir dinheiro nem para servir como credor de última instância.

Em 1907, os legisladores começaram a considerar a criação de uma instituição nacional que pudesse enfrentar as flutuações da demanda monetária de outra maneira que não a absorção de ouro do exterior. Essa instituição foi finalmente criada pela Federal Reserve Act adotada em 1913.

*Um dos primeiros "Certificados de Ouro" emitido em 1886 para substituir moedas de prata

O território norte-americano, por aquela lei, foi dividido em 12 distritos, cada um com seu banco federal de reserva, cujo capital estava subscrito pelos privados que se viam, assim, forçados a aderir ao sistema. Este entrou em funcionamento no dia 2 de novembro de 1914. Os bancos federais foram autorizados a emitir um novo tipo de moeda, as notas da Reserva Federal, que era dinheiro legal para todas as dívidas e obrigações, tanto dos bancos quanto do governo dos EUA.

Essas novas notas deviam substituir as dos bancos privados, e a dívida que tinha servido de respaldo para estes deveria ser recolhida e paga com notas da Reserva Federal. A emissão estava lastreada em ouro em pelo menos 40%, e o restante por valores comerciais e outros ativos idôneos adquiridos, mediante desconto, dos bancos privados. Desse modo, supria-se a necessidade de criar um meio flexível de pagamento, que pudesse aumentar ou diminuir a oferta de moeda em função das exigências dos intercâmbios e da situação do sistema bancário. Um banco associado com escassez de divisas podia adquiri-las descontando ativos em troca de cédulas da Reserva Federal.

*Certificado de ouro de cem mil dólares, de uso restrito aos bancos federais, 1934

Mas o Conselho da Reserva Federal, com sede em Washington e nomeado pelo presidente da República, exercia uma tutela problemática sobre os bancos federais, cujos proprietários e diretores eram banqueiros privados. Como não estava claro de quem dependia a política monetária, cabia aos banqueiros sempre a última palavra.

No entanto, as duas condições necessárias para a ulterior supremacia internacional do dólar já existiam: a acumulação nos EUA de uma parte considerável de reserva mundial de ouro, o que obrigou o sistema monetário internacional a adotar um padrão-ouro de câmbio, e a unificação da moeda nacional, emitida por uma só autoridade com poder para atuar como garantidor de última instância.

*Libra de ouro inglesa - 1911, antecessora no mercado mundial.

A Primeira Guerra Mundial debilitou o poder do Reino Unido, e a moeda norte-americana entrou no período de pós-guerra com uma paridade em relação ao ouro superior da libra esterlina. Além disso, a economia dos EUA, após uma breve recessão, conheceria o período de uma prosperidade chamado de “os anos loucos da década de 20”, época áurea do rádio e do automóvel.

O CRACK DE 1929

A entrada maciça de capitais de investimento nos EUA, provocada no início pelo crescimento rápido da atividade econômica e pela prosperidade do mercado acionário e, depois, pelas elevadas taxas de juros aplicadas com a intenção de pôr fim à especulação de Wall Street, acabou com a estabilidade das taxas de câmbio. O crack da Bolsa em 1929 provocou inúmeras falências bancárias, que a Reserva Federal não pôde compensar. A derrocada dos valores de investimento levou a uma depressão mundial.

*Bolsa de Valores de Nova Iorque, 1929

As provas inegáveis da generalização de fraude bancária, vindas à tona com esse desastre, evidenciaram as deficiências na função controladora exercida pela Reserva Federal e em sua capacidade de orientar a política monetária, a fim de proteger da falência até os bancos mais bem administrados. Uma série de medidas – nacionalização do ouro, desvalorização do dólar a 35 dólares a onça de ouro etc. – assim como a Banking Act de 1935, que reforçava as atribuições do Conselho da Reserva Federal, deu lugar finalmente à criação de um sistema com atribuições equivalentes às de um banco central europeu.

Assim, o período entre-guerras serviu para consolidar o poder da reserva monetária dos EUA e a estrutura de seu sistema financeiro. A partir desse momento, os EUA estavam preparados para tomar a frente de Londres no sistema internacional. Os EUA tornaram-se o maior credor do mundo do pós-guerra. Todos os países que desejavam comprar mercadorias para a reconstrução tinham que adquirir dólares, o que transformou a moeda norte-americana na primeira moeda internacional.

*Fonte: O Correio da Unesco, Março de 1990 Ano 18 Nº 3
*Fotos retiradas da Internet

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Paga-se bem Pela Aparição desse Fantasma - Dólar 1964-D "Peace"

Foi anunciado pela empresa PCGS (Professional Coin Grading Service), dos Estados Unidos que, se algum colecionador tiver uma moeda chamada "Dollar Peace" de 1964 - D, pagaria apenas para vê-la US$ 10,000.00 de recompensa, isso apenas para vir a público com ela.

 
*Anverso e reverso da suposta moeda


Imagem

A história envolvendo essa peça é bem mais complexa: a moeda quase fez um retorno em 1964, quando o Congresso aprovou a cunhagem de 45 milhões de dólares de prata novos para satisfazer as necessidades da indústria de casino que crescia em Nevada.

A decisão foi controversa por causa de uma escassez crítica de prata em 1965, o que levou à acumulação generalizada de moedas de prata.

Em resposta à escassez, o Congresso aprovou a Lei de cunhagem de 1965, que autorizou a remoção de conteúdo de prata de moedas em circulação (exceto para o “half” dólar Kennedy) cunhadas após 31 de dezembro de 1964, que mesmo assim foi reduzido no teor de prata nos anos seguintes.

Mas, sob pressão de alguns membros do Congresso dos estados ocidentais, o presidente Lyndon B. Johnson emitiu uma ordem em 15 de maio 1965 para retomar a produção do dólar paz. (Ele é datado de 1964 para permitir a prata para ser incluído. Durante 1965 todas as moedas americanas foram cunhadas com a data do ano anterior, com as cunhagens de 1965 não sendo produzidas até o início do ano seguinte.)


No total, 316.076 dólares de paz foram cunhados na Casa da Moeda de Denver naquele mês, mas o Congresso cancelou a ordem presidencial e exigiu que cessasse a produção. Todas as moedas produzidas a esse ponto foram recolhidas para serem derretidas.

Rumores de que alguns exemplares escaparam do derretimento persistem, possuí-los é ilegal, o que torna improvável que o possuidor de algum leve a questão em público.

Notoriamente, quem a possuir, poderá ser alvo de investigações, já que se tem visto que a moeda teria entrado no meio circulante ou numismático ilegalmente, uma vez que se ordenou sua refundição. Muito provavelmente teria a peça apreendida e seria alvo de investigações judiciais...

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Moeda de 5 Centavos de 1792 é Vendida por US$ 1,4 milhão nos EUA


Uma das 250 moedas ainda existentes da primeira cunhagem realizada nos Estados Unidos foi leiloada na semana passada: datada de 1792, a moedinha de 5 centavos foi arrematada por US$ 1,41 milhão (cerca de R$ 2,87 milhões).

Os primeiros Dimes Half, 1792 H10C Judd-7, Pollock-7, R.4 como uma greve de Empresas SP67 PCGS .... Os primeiros Dimes Half, 1792 H10C Judd-7, Pollock-7, R.4 como uma greve de Empresas SP67 PCGS ....

A casa de leilões Heritage foi quem promoveu, na Flórida, o leilão de moedas e notas de dinheiro raras no qual o "nickel", como é conhecida a moeda de cinco centavos, foi vendido. O leilão arrecadou mais de US$ 50 milhões no total, de acordo com a Heritage.

O presidente da Heritage, Greg Rohan, afirmou à agência de notícias UPI que a moeda é "famosa" entre os aficcionados norte-americanos.

"Não só é de conhecimento geral que as moedas podem ter sido cunhadas a partir da prataria de Martha Washington (esposa do primeiro presidente norte-americano, George Washington); ainda, alguns numismatas [especialistas em moedas] acreditam que a própria Martha posou para a imagem que foi cunhada na frente da moeda", disse Rohan.

Inclusive esta é a única peça de "Half Disme" certificado no mundo e, mesmo tendo sido chamada de "Nickel", a peça em questão é de prata.

As informações são do "The Huffington Post".

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Banqueiros e Falsificadores - A Moeda na Europa Renascentista


DOS NEGÓCIOS ÀS FINANÇAS, PASSANDO PELOS METAIS DO NOVO MUNDO, AS PERIPÉCIAS MONETÁRIAS DA EUROPA DO RENASCIMENTO

É comum considerar-se a moeda sob o ângulo de suas funções de unidade de conta, de forma de pagamento e de reserva de valor. Padrão de medida para o conjunto dos bens trocados, a moeda gera um espaço social homogêneo, onde todos possuem a mesma referência para avaliar seus créditos e suas dívidas.


*O Pesador de Ouro, do pintor holandês Gerard Dou (1613-1675)

Na Europa, esse espaço se afirmou no século XVI no interior das diversas fronteiras nacionais, e a moeda levou ao exterior a bandeira de cada nação. Instrumento do pagamento, a moeda também fez circular a mercadoria. O desenvolvimento espetacular da produção e das trocas nessa época é, no entanto, geralmente associado ao crescimento da massa monetária sob a forma, ao mesmo tempo, de papéis comerciais e moedas metálicas fabricadas com os metais vindos da América.

Reserva de valor, por fim, a moeda implica uma concepção particular da temporalidade, que permite contornar a angústia existencial. O tempo torna-se o suporte dos projetos do homem, não pertence mais totalmente a Deus. O século XVI europeu é uma época de tomada de consciência da moeda como capital, testemunhada pelos debates sobre juros dos empréstimos, o ajuste dos créditos e a origem das altas de preços, inclusive a venda de indulgências.

Parece, portanto, que a moeda cumpriu bem suas funções, e contribuiu para a consolidação dos laços sociais da Europa do Renascimento. Mas toda moeda tem seus dois lados: a moeda é também um conjunto de forças centrífugas de aquisição e rejeição. E essas agitações foram ainda mais acentuadas pela duplicação da população da Europa durante o Renascimento.

A CONTESTAÇÃO DO PODER PELOS PRÍNCIPES

As primeiras perturbações causadas nessa época pela moeda referiam-se à sua emissão. Apenas a autoridade política representativa, em determinado espaço nacional, podia cunhar moeda e dar-lhe um curso legal, princípio esse tomado, após muitas vicissitudes, do direito romano. Apesar do rigor das sanções aplicadas aos contraventores (por vezes cozidos vivos em um caldeirão), as contestações da cunhagem oficial eram muito frequentes.

*O Florim, uma das moedas medievais mais copiadas na Europa - esse de 1252 com 3,56 g.

A primeira categoria de fraudadores era a dos que se aproveitavam do fato de existirem moedas que, embora do mesmo valor, não apresentavam o mesmo peso. Tais moedas estavam em toda parte, pois as técnicas de cunhagem eram então rudimentares para permitir uma exata reprodução das peças. Qualquer comerciante atento, qualquer agente de câmbio e até os cobradores de impostos examinavam minuciosamente as moedas, retirando de circulação as mais pesadas. Bastava então vender a peso, por bom preço, o metal precioso nos ourives, para lucrar em cima do valor nominal das peças. Também se poderia diminuir o excedente de metal raspando a moeda, e só repor em circulação o estritamente necessário, contando com a pouca probabilidade de os usuários quererem verificar se as moedas seguiam os padrões oficiais (se seguissem, caberia aos usuários arcar com as despesas da verificação).


*Diferenças entre duas peças de 8 reales: a primeira cunhada a martelo - Potosi (Bolívia) 1682 e a segunda laminada - Sevilha, 1591.

Serrilhar a borda das moedas e fazer um círculo em torno da efígie eram os meios empregados, sem muito êxito, para limitar essa diminuição; já a nova técnica da laminação, que impediria totalmente essa prática, não pôde ser implantada no século XVI em nenhum país, tanto em virtude do custo quanto da resistência dos artífices especializados na antiga técnica de cunhagem de moedas com martelo. Pouco a pouco, os príncipes tiveram que impor a pesagem das peças nas transações, para garantir à moeda uma autenticidade que só a sua efígie já não assegurava. No que se refere à luta dos soberanos para impedir que os ourives fixassem livremente o preço dos metais preciosos, bem pouco adiantaram os éditos de proibição.

Mais radicais ainda foram os antagonismos que apareceram entre falsificadores de moedas e o que se poderia chamar de antimoedeiros. A contrafação, isto é, a cunhagem de peças falsas (chamadas expressivamente de “adulterinas”) se concentrou, no século XVI, nas moedas espanholas, e dizia respeito sobretudo às pequenas peças, de fabricação menos cara e controle mais difícil. Entretanto, diversos soberanos não hesitavam em cunhar peças imitando as de estados estrangeiros, a fim de elevar a taxa de cunhagem por sua conta (no caso de pequenos Estados que não tinham moeda própria), ou reter uma parte do metal cunhando imitações de menor peso.

Não faltam exemplos célebres de contrafações: na França, a cunhagem paralela de moedas foi organizada durante cerca de 10 anos pelos papistas, a fim de sabotar a produção de dinheiro oficial do rei protestante. Em outro caso, a cunhagem se deu em detrimento da Espanha, cujos metais preciosos vindos da América eram pirateados a caminho da Europa.

*As lendárias Minas de Cerro Rico de Potosí, no Novo Mundo (Bolívia) Gravura de Théodore de Bry (século XVI)


*Transporte da prata de Potosí em Lhamas, gravura de Théodore de Bry (Século XVI)


Desde que descobriu as Antilhas e depois a América, a Espanha explorou sistematicamente metais preciosos dessas regiões, os quais eram enviados duas vezes por ano, sob escolta militar, a Sevilha, onde eram cunhadas as moedas espanholas. As entradas de metal registradas no século XVI foram consideráveis: cerca de 250 toneladas de ouro e 200 mil toneladas de prata, ou seja, um terço de todas as reservas europeias. Além disso, certos historiadores estimam que a quantidade de metais que entrou clandestinamente e escapou aos registros espanhóis, sendo desviadas para cunhagem em países concorrentes, pode muito bem ter sido equivalente aos números oficiais.

Mas o desvio de moedas podia também tomar formas menos complicadas, como a que consistia em um acordo entre particulares para fazer circular peças proibidas pela autoridade soberana. Periodicamente, os príncipes decretavam que determinada moeda nacional ou estrangeira não poderia mais ser usada em transações comerciais por ser de qualidade inferior. Ela deveria, então, ser levada à casa da moeda para ser destruída, ocasião em que o portador receberia o valor correspondente ao peso da moeda. Era comum os particulares não levarem em conta esses éditos e colocarem em circulação privada as peças em questão – principalmente quando faltavam instrumentos monetários. Foi, por exemplo, o que aconteceu na França com as moedas espanholas de pequeno valor na segunda metade do século XVI.

Mais frequente ainda era a prática de negociar com moedas oficialmente autorizadas, mas dando-lhes uma cotação (chamada “voluntária”) que ignorava o preço fixado pelo príncipe. Nessa época, e por mais de dois séculos ainda, o valor das moedas era estabelecido por anúncio público, e não pela inscrição na própria moeda. Esse fato fez com que se desconfiasse da cunhagem oficial e, em certas regiões e épocas, aconteceu de a cotação privada de uma moeda alcançar o dobro do valor anunciado oficialmente. Essas circunstâncias comprometiam seriamente a capacidade inerente à moeda de homogeneizar as relações sociais.

No grupo dos antimoedeiros, convém estabelecer duas categorias de agentes. Primeiro, havia os que se recusavam a abandonar a permuta; tal sistema se manteve em inúmeras comunidades rurais, apesar da extinção do comércio de mercadorias em todo o espaço europeu da época. Eram também, de certa forma, antimoedeiros os que queriam ater-se somente ao peso do metal precioso (e, em certos casos, ao do sal) como medida de valor, excluindo das transações qualquer moeda cunhada pela autoridade pública.

Para isso existiam diversos meios. Primeiro, podia-se incluir uma “cláusula ouro” nos contratos a prazo, estipulando que o pagamento se efetuaria em determinado número de moedas especificadas, qualquer que fosse seu valor do momento como umidade de conta. Essa cláusula, herdada do direito romano, se manteria por muito tempo. Nos contratos de compras diretas, a desconfiança com relação à cunhagem traduzia-se na obrigação de pagar em metal bruto, com base em uma tarifa contratual. No século XVI, na França, entre um quarto e um terço das transações ocorria mediante troca de objetos de ourivesaria (anéis, taças) ou de pó de ouro retirado dos rios (a garimpagem ainda era uma atividade corrente), quando não raspado das moedas em circulação.

O COMÉRCIO INTERNACIONAL

No comércio da Europa com o resto do mundo, os pagamentos eram efetuados em metais preciosos. É verdade que para comprar as sedas e as especiarias do Oriente podia-se utilizar certas moedas de curso oficial, em particular o “excelente” espanhol e o zequim veneziano, até meados do século XVI, e depois o real de prata espanhol. Mas essas peças, pouco numerosas, tinham características específicas que impediam que fossem substituídas por outras.

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*Meio "Excelente" de ouro (5,6 g) dos Reis Católicos (Fernando e Isabel) cunhado em Sevilha


*Zecchino de ouro (3,5 g.) em ouro puro (0.997 ou 99,7% de ouro) do doge Francesco Venier (1554 – 1559) 

Com um peso de metal puro, praticamente constante (3 a 4 gramas), essas moedas eram difíceis de imitar, e a efígie nelas gravada só garantia a sua conformidade, sem representar uma unidade de conta fora das fronteiras nacionais. Dessa forma, no comércio internacional da Europa essas moedas valiam de acordo com seu número ou seu peso em metal puro, mas careciam de status monetário. Nesse aspecto, e mesmo sem considerar a guerra, a pirataria e a escravidão, que o acompanhavam, o comércio desenvolvido no século XVI pelos europeus não pretendia homogeneizar o espaço mundial.


*Peça de 8 reales em prata, Casa da Moeda do México sem data (1564-1567) Felipe II da Espanha


O mesmo acontecia com os certificados de depósito que circulavam dentro de cada espaço nacional europeu. Esses certificados, que só seriam substituídos por cédulas de banco um ou dois séculos mais tarde, eram emitidos desde o século XIV por certos banqueiros em troca de depósitos em espécie em seus cofres; tinham o valor de promessa de pagamento imediato pelo banqueiro, e circulavam como moeda.

*Oficina de cunhagem francesa - reinado de Luís XII (1462-1515)

O fraco desenvolvimento da indústria e do artesanato era ao mesmo tempo causa e consequência dos costumes monetários da época: de um lado, essas atividades não produziam riquezas suficientes para que sua partilha fosse objeto de um consenso social; de outro, a orientação prioritária das despesas – guerras, terras, prebendas, produtos de luxo importados – mantinha sobretudo categorias parasitárias. A produção permanecia principalmente agrícola, e seus excedentes eram trocados em mercados locais ou nas feiras distantes, e somente em certos períodos do ano. A figura do empresário ainda não surgira, e a atividade econômica era simbolizada pelos negociantes, por cujas mãos circulava o dinheiro.

OS BANQUEIROS MERCADORES

Entre esses negociantes, os banqueiros mercadores, em seu apogeu no século XVI, ilustram perfeitamente a natureza da atividade monetária da época. Desde a Idade Média, havia nos países da Europa uma redistribuição de mercadorias: matérias-primas do continente e artigos de luxo do Oriente eram objeto de um intenso comércio de importação e exportação. Este se localizava nas cerca de seis grandes cidades onde se realizavam feiras periódicas e onde o pagamento das compras suscitava uma atividade específica: a conversão a um certo preço das unidades contábeis nacionais (o câmbio).

*Jakob II Fugger (1459-1525) - um dos maiores banqueiros europeus do século XVI

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*Jakob II Fugger com seu principal contador M. Schwartz. Ao fundo aparecem os dossieres das sucursais de seu banco (note alguns nomes como "Roma", Lisboa" e "Nurenberg")

Os banqueiros mercadores, que perpetuavam uma tradição iniciada no século XIII, nas feiras de Champagne, eram então agentes particulares que possuíam o monopólio da compra e da revenda da dívida internacional (letra de câmbio) dos mercadores comuns. Seu monopólio vinha de sua implantação em todas as feiras da Europa, onde formavam uma rede que fazia deles os intermediários obrigatórios dos outros mercadores. Esse monopólio levou a uma avaliação consensual do preço internacional da dívida originalmente expressa na moeda de um só país. Nesse sentido, os banqueiros mercadores, em Lyon, sua capital, criaram no século XVI uma moeda de âmbito europeu.

*Os Agiotas, do pintor holandês Marinus Van Reymerswaele (1490-1546)

Ao determinarem o valor internacional das moedas, os banqueiros mercadores entravam certamente em conflito com seus clientes comerciantes, de quem cobravam uma margem de lucro. Mas deviam enfrentar os príncipes, que fixavam, por seu lado, uma cotação oficial para as moedas estrangeiras admitidas em seu país. Muitas modificações e altas de preços nasceram desses antagonismos monetários, exacerbados, além disso, por outras dimensões que confrontavam as atividades financeiras e bancárias no próprio círculo dos banqueiros e mercadores.

Geradora do vínculo social em seu princípio, em virtude da referência comum que institui, a moeda é também perturbadora por seu uso. No que pese à sua transformação em uma nova divindade na Europa do século XVI, a moeda, à imagem e à semelhança do homem que a criou, continua na busca de seus limites.


*Fonte: O Correio da Unesco, Março de 1990 Ano 18 Nº 3
*Fotos retiradas da Internet