domingo, 30 de dezembro de 2012

Boas Festas e Feliz Ano Novo

Fica aqui, aos amigos numismatas os votos de Boas Festas e Feliz Ano Novo, cheio de saúde, paz, prosperidade e, é claro, muitas moedas!!!

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Os Dinares do Califa - Um Resumo da História da Moedagem Islâmica


OS PRIMEIROS CALIFAS FUNDARAM NO SÉCULO VII UM SISTEMA MONETÁRIO INTERNACIONAL COM CARACTERÍSTICAS SURPREENDENTEMENTE MODERNAS

Na época de Maomé, no início do século VII, os árabes não possuíam moedas próprias, e certamente nem precisava delas. Para as tribos nômades, cujo principal padrão de riqueza era o camelo, é certo que o escambo constituía o meio de troca mais difundido, enquanto nas cidades mercantis, como Meca e Medina, provavelmente as moedas estrangeiras – o ouro bizantino ou a prata persa – eram utilizadas nas transações importantes.
File:Romanus I with Christopher, solidus.jpg
*Solidus bizantino de Romanus I (920-944)

File:Khosrau II Coin.jpg
*Dracma sassânida persa de Cosroés II (590-628)

Entre 636 e 655, as primeiras conquistas árabes – que tomaram a Síria, a Palestina e o Egito dos bizantinos, a oeste, e aniquilaram o império persa dos Sassânidas, a leste – trouxeram enorme quantidade de metais preciosos, com a pilhagem de baixelas, taças e moedas. Mas uma nova moeda não tinha qualquer urgência em face do supremo objetivo: guerra santa.

Os novos senhores muçulmanos adaptaram-se muito bem aos sistemas já existentes nas regiões conquistadas, e retomaram-nos a seu modo, com pequenas modificações. No Oriente, continuaram a cunhar delgadas dracmas de prata com a efígie do falecido imperador sassânida Cosroés II, acompanhada, porém, da inscrição em árabe “Em Nome de Alá”. Nas margens do Mediterrâneo, conservaram o tipo original do solidus de ouro e do follis de bronze: o busto ou a figura de pé dos imperadores de Constantinopla, Heráclius, com seu filho, ou Constantino II, acrescentando-lhes às vezes uma inscrição em árabe e suprimindo-lhes as cruzes, símbolos da cristandade largamente representados nas moedas bizantinas.

O advento da dinastia dos Omíadas, em 661, marca o início da verdadeira administração do império. No campo monetário, a primeira evolução para temas efetivamente muçulmanos surgiu na Síria e na Palestina, sob a influência do califa Abd-el-Malik (685-705), principalmente em na moedagem de bronze: em Damasco, Édessa e Jerusalém, cunharam-se moedas com a figura do califa de pé, segurando com as duas mãos uma espada embainhada e rodeado por uma legenda em árabe.

NASCIMENTO DO DINAR

Em 696, Abd-el-Malik teve o mérito de instaurar em todo o império um sistema monetário coerente que atendia às necessidades econômicas tanto nacionais como internacionais.
Para as transações importantes e o grande comércio, passou-se a utilizar o dinar de ouro, pesando 4,3g; para o pagamento de salários e impostos, o dirém de prata, de 2,8g; e para as compras comuns e cotidianas, o fels de bronze. O valor relativo dessas moedas não era fixo, pois evoluía segundo o preço dos diferentes metais. Originalmente, o dinar valia 10 diréns, mas valorizou-se ao ponto de valer 14 e até 20 diréns em diferentes épocas. O dirém oscilava entre 16 e 24 fels – pois seu peso variava de acordo com as regiões.
Ficheiro:Umayyad calif Sassanian prototype 695 CE.jpg
*Dinar de ouro de Abd-el-Malik - século VII

A denominação dessas novas moedas derivava diretamente das moedas de origem estrangeira até então utilizadas: o dinar, herdeiro – e concorrente – do solidus bizantino, devia seu nome ao denarius (denário) latino; o dirém retomava o aspecto e a denominação da dracma persa e o fels (foulus no plural), descendia diretamente do follis bizantino.

Em compensação, o aspecto visual das moedas era inteiramente revolucionário, despojado de alegorias, inscrições em homenagem ao príncipe reinante ou retratos. Tratava-se de moedas islâmicas, que deviam, portanto, apenas participar da louvação a Deus – nem sequer o nome do califa figurava nelas. Como a representação de formas humanas e animais fora desaprovada pelo Profeta, elas se limitavam a apresentar um texto com profissões de fé caligrafadas numa elegante escrita cúfica.

File:Dinar of al-Muqtadir with Abu'l-Abbas and Amid al-Dawla.jpg
*Dinar de ouro do califa de Bagdá al Muqtadir (908-932)


*Dirém de prata do califa de Bagdá al-muqtadir (908-932)



Esse sistema rompia com a tradição monetária do Oriente Médio e da África do Norte, ao mesmo tempo figurativa e pessoal (retrato do príncipe ou o emblema da cidade). Teria, entretanto, uma longevidade surpreendente, pois suas últimas moedas foram cunhadas no Iêmen, por volta de 1960. Uma singular modernidade desse sistema: nenhum Estado soberano havia definido até então seu numerário de maneira tão explícita. Os árabes foram os primeiros a indicar ao mesmo tempo o nome, o local de cunhagem e o ano de circulação de suas moedas, datadas com os anos da Hégira de acordo com o calendário muçulmano. No Ocidente, o hábito de datar as moedas só se generalizou a partir do século XV.

FIM DE UMA UNIDADE

Enquanto os dinares eram cunhados exclusivamente na capital dos Omíadas (Damasco), os diréns eram fabricados em inúmeras grandes cidades do império. As oficinas de maior atividade encontravam-se, certamente, em Damasco, mas também em Wasit, cidade fundada em 703 no vale do Tigre (ao noroeste de Basora, Iraque). A disseminação dessas oficinas permite avaliar a imensidão do império: da Espanha (Córdoba) a Túnis, do Azerbaijão ao Afeganistão (Balkh) e ao Paquistão (região do Sind).

Ao Abácidas destituíram os Omíadas em 750, e a expansão do comércio nos séculos VIII e IX desenvolveu o uso da moeda. Bagdá, a nova capital fundada em 762, absorveu grande parte das riquezas do império: converteu-se rapidamente no principal polo econômico e num importante centro de cunhagem de ouro e prata. Quanto aos tipos monetários, continuaram iguais aos dos reinos precedentes; mencionavam, porém, o nome do califa, logo acompanhado pelo dos governadores de província. Mas o estilo caligráfico e a aparência das moedas diferenciavam-se por regiões, à medida que se firmavam dinastias locais nas províncias da Espanha, da África do Norte e do Irã Oriental.

Em 945, a revolução buíida eliminou o poder central dos Abácidas. Desde então, deixou de haver moeda comum no mundo muçulmano: os termos dinar e dirém continuaram a designar moedas de ouro e prata, mas seus diversos pesos e quilates, assim como a disposição de suas inscrições, passaram a refletir as ambições e os recursos financeiros de cada dinastia. Única exceção nesses tempos política e economicamente conturbados, o Egito dos Fatímidas (969-1171) era um país próspero: controlando a saída do ouro sudanês e ocupando posição estratégica nas grandes rotas do comércio marítimo, durante muito tempo continuou a cunhar dinares fortes.

No século XIII, as invasões mongóis que devastaram todo o Oriente muçulmano – Bagdá foi saqueada em 1258, e o califa abácida, executado – eliminaram os últimos vestígios do sistema concebido por Abd-el-Malik. Logo, cada país passou a ter sua própria política monetária, a definir e a nomear seu numerário. Somente no império Otomano surgiu uma moeda de grande difusão: inicialmente um aspre de prata (de 1,2g, e depois de 0,8g), complementado, em 1478, por um sultani de ouro. Essas moedas circularam da Argélia à Turquia e até os Balcãs.
 
*Aspre (ou acke) de prata de Solimão I (o Magnífico) (1520-1566)


*Sultani de ouro de Solimão I (o Magnífico) (1520-1566)

Entretanto, esse sistema não demonstrou a mesma estabilidade do precedente. Prejudicado, desde o final do século XVI, pela chegada maciça da prata das minas espanholas da América do Sul, foi revisado várias vezes antes de de ser reformado em 1688, sem jamais se impor efetivamente ante as moedas ocidentais. Os tipos monetários retomaram a antiga tradição das peças personalizadas: apesar de não-figurativas, as novas moedas eram todas dedicadas à glória do sultão, ostentando frequentemente o seu selo (a toughra) e citando sua filiação.

No mundo islâmico de hoje, assiste-se ao florescimento de moedas estritamente nacionais. Está definitivamente ultrapassada a época em que as moedas, transcendendo sua função econômica e atravessando as fronteiras políticas, destinavam-se exclusivamente a participar da celebração de Deus.

*Fonte: O Correio da Unesco, Março de 1990 Ano 18 Nº 3
*Fotos retiradas da Internet

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Proto-Moedas (2) - As Valiosas Conchas Africanas


Desde tempos remotos até o século XX, inúmeros objetos foram utilizados como moeda na África subsaariana: varetas ou pulseiras de metal, alguns tecidos, sal, pérolas, botões de camisa e conchas. Estas últimas, muito difundidas, foram os meios de troca que circularam em áreas de maior extensão.

Moluscos de origem marinha, as conchas de cauris, marginelas e olivas foram as que se destinaram com maior frequência a esse uso. Os cauris (Cypraea annulus ou Cypraea moneta) são conchas brancas ou amarelo-claras, do tamanho de uma amêndoa. A valva dorsal é convexa, enquanto a ventral apresenta uma fenda. São encontradas apenas em mares quentes, principalmente no Pacífico Sul e no Oceano Índico. A maioria dos Cauris que circulavam na África durante mais de mil anos procedia dos arquipélagos das Maldivas e das Laquedivas, no sudoeste da Índia, e das Ilhas Zanzibar e Pemba, ao largo da costa oriental africana.

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*Index Testarum Conchyliorum (1742) de Niccolò Gualtieri*

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*Cypraea Moneta*


Despachados como mercadoria em seu local de pesca ou de coleta, os cauris frequentemente serviam de lastro para os navios árabes, judeus ou europeus que os transportavam até os portos africanos, nos quais eram novamente vendidos como mercadoria.

As Marginelas (Marginella ou Marginellidae) são moluscos marinhos de concha pequena e colorida, principalmente as procedentes das costas ocidentais da África. Também são encontradas nas regiões marinhas intertropicais da América, particularmente no Brasil. Alguns tipos de Marginela abaixo:

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*Marginella Mosaica*

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*Marginella Nebulosa*

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*Marginella Gemma*

Brilhantes como ágatas e mais compridas que os cauris, as olivas compreendem mais de 300 espécies. A mais utilizada como moeda na África subsaariana era a Olivancillaria nana. Recolhida nos arredores de Luanda (Angola), ela constituía a "Reserva monetária" exclusiva dos reis do Congo até a chegada dos portugueses à região, no final do século XV.

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*Olivancillaria nana*


A ÁREA DE CIRCULAÇÃO DAS MOEDAS-CONCHA

Até o século XVI, o nzimbu, nome congolês da olivancillaria nana, circulava no reino do Congo, enquanto a marginela se limitava à bacia do Níger e o cauri difundia-se na região que constituíra posteriormente a África Ocidental e, em certa medida, na África Central.

Entre o século XVI e o final do século XIX, do Senegal a Uganda, do Sahel à Costa dos Escravos (Golfo da Guiné), o cauri foi mais difundido que qualquer outra moeda-concha. Mas foi pouquíssimo utilizado no Saara e jamais chegou a se implantar na África do Norte ou na África Austral.

Esse período marca também o apogeu da circulação das marginelas nas Áfricas Ocidental e Central, onde eram utilizadas pelas etnias da bacia do Congo em suas transações comerciais.

Já as olivas, sempre utilizadas exclusivamente pelos bantus, parecem jamais ter circulado fora das fronteiras congolesas. Para arruinar os reis do Congo, os portugueses trouxeram das costas brasileiras outras espécies de olivas, além de cauris do Oceano Índico. Dessa forma, paulatinamente o nzimbu foi retirado da circulação monetária.

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*Valvas dorsais e ventrais da Cypraea argus*

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*Valvas dorsais e ventrais da Cypraea onyx*


Os portugueses exportaram ainda olivas de Luanda e introduziram-nas como moeda fracionária, juntamente com os cauris, no tráfico de escravos negros no Brasil colonial.

As conchas não eram simples objetos de troca, pois possuíam todos os atributos das verdadeiras moedas. Como padrão e reserva de valor, constituíam à sua maneira instrumentos de câmbio e eram símbolo de riqueza.

MOEDAS VERDADEIRAS E FICTÍCIAS

Enquanto moeda verdadeira, as conchas permitiam adquirir inhame, facas, bois ou escravos e remuneravam qualquer tipo de serviço. Enquanto moeda fictícia, serviam igualmente como medida de valor para fixar o preço de algumas mercadorias, sem forçosamente intervir em seu pagamento. No século XIX, o explorador francês Louis Gustave Binger transcreveu a conclusão de um acordo entre dois comerciantes do norte de Gana: "A cabaça de sal vale 2000 cauris; o cento de kolas, 1000 cauris. Ofereço-te então 200 kolas por uma cabaça de sal".

Portanto, as conchas favoreciam as transações e constituíam excelentes indicadores da variação no tempo e no espaço do valor das mercadorias. Para maior comodidade, eram agrupadas para formar múltiplos: depois de perfuradas, eram atadas em conjuntos de 12, 20, 40 ou 100 unidades, segundo o sistema de numeração utilizado no espaço comercial em que circulavam.

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*Conchas usadas como adorno, tendo ao peito concha maior, símbolo de riqueza na Papua Nova Guiné*

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*Bailarino retratado numa cédula moderna de 5 kinas apresentando um escudo com uma moeda-concha incrustada*


Assim como os cauris, os musangas, discos de concha de caracol que circulavam em algumas regiões da África, eram atados através de um orifício central para formarem colares. dez colares, medidos da extremidade do dedo maior ao pé do calcanhar, no início do século XX, valiam um doti ou 3,60 m de tecido azul; dez colares medidos do dedo menor ao calcanhar valiam um doti de qualquer pano de outra cor.

Essas moedas-concha da África subsaariana deram origem, em algumas regiões, a verdadeiras políticas monetárias. As autoridades tradicionais ou políticas - onde existia um poder centralizado - asseguravam sua circulação e regulamentavam sua importação. Ao tomarem medidas para evitar a superabundância de conchas, geradora de inflação, ou sua escassez, que dificultaria as transações comerciais, os soberanos exerciam um verdadeiro poder econômico. De Abomé à Costa dos Escravos, assim como no Congo, eles praticavam uma política monetária rigorosa, de reconhecida eficiência.

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*Argola de cobre para o tornozelo, utilizada como moeda no Congo*


Desde o início da era colonial as conchas começaram a perder paulatinamente seu valor monetário e deixaram de intermediar as transações comerciais. Atualmente, apenas os cauris continuam a circular, ainda que muito timidamente, entre os povos do sudoeste de Burkina Faso e do norte de Gana. É a única região do mundo onde conseguiram conservar em parte sua função de moeda. Só não se sabe até quando...

*Fonte: O Correio da Unesco, Março de 1990 - Ano 18 Nº 3
*Fotografias retiradas da internet





sábado, 22 de dezembro de 2012

Proto-Moedas: Quando o Dinheiro Crescia nas Árvores

Quando os conquistadores espanhóis chegaram ao território que hoje é o México no século XVI, os grãos de cacau faziam as vezes de moeda. Os cronistas notaram com assombro; o dinheiro crescia em árvores.

Naquela época existiam três grandes regiões produtoras de cacau: a de Chontalpa e Soconusco (México) e a região do Rio Ulua (Honduras). A produção e a circulação de cacau, assim como seu consumo, eram fortemente controladas por nobres e mercadores do vale do México e de Yucatã. Os baixos rendimentos do cultivo e as dificuldades do transporte aumentavam o custo social do cacau e, em consequência, seu preço.

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*Cobiçado por se escasso, mas suficientemente abundante para não faltar, 
o cacau, possuidor dos atributos do deus Quetzalcóatl, era a moeda prestigiosa
da América Pré-Colombiana*

Como outras moedas primitivas, o cacau não cumpria todas as funções próprias a um instrumento monetário. Assim, apesar de ser o principal meio de intercâmbio, tanto os astecas como os maias utilizavam como medida de valor a manta (quachtli), peça de algodão que representava uma quantidade determinada de força de trabalho, isto é, de valor. Em Yucatã, a manta equivalia a 450 horas de trabalho. Apesar de não conhecermos o equivalente em horas de trabalho da manta do tributo asteca, sabemos, por outro lado, que seu valor em cacau era de 100 grãos, aproximadamente, segundo as flutuações da produção.

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*Imagens do Codex Borbonicus*

Pode-se afirmar, então, que o valor (em força de trabalho) da maioria dos bens que circulava podia ser expresso em cacau, enquanto o preço deste só podia ser fixado em mantas, cujo valor era invariável. A impossibilidade de fragmentar a manta e a consequente necessidade de um meio circulante dariam origem ao universo "monetário" do cacau, determinando a conversão recíproca entre o cacau e a manta.

Com o cacau, os antigos mexicanos preparavam uma bebida cerimonial cujo consumo ficava restrito aos nobres e aos guerreiros: o chocolate. Uma forte restrição pesava sobre o consumo do cacau, e os plebeus só podiam beber pulque, bebida alcoólica obtida do agave. Esse tabu reforçava o poder da nobreza, pois eram atribuídas ao chocolate propriedades mágicas: era o alimento dos deuses.

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*Cacaueiro com seus frutos (Theobroma Cacao)*

Talvez fosse associado ao chocolate o sangue dos sacrifícios humanos oferecidos aos deuses, e especificamente do sacrifício que consistia em arrancar o coração das vítimas em honra ao deus Quetzalcóatl-Kukulcã (a serpente emplumada).

Segundo os mitos mexicanos, Quetzalcóatl, "Jardineiro do Paraíso", introduziu o cultivo do cacau entre os homens quando vivia em Tula, e ao partir para o litoral enterrou o "dinheiro" que circulava então: conchas, plumas e pedras preciosas. Então a moeda-cacau se revestiu dos atributos mágicos do deus do qual se originara.

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*As "Moedas-cacau" dos astecas e maias*

Os astecas foram os últimos senhores do vale do México. Esse florescente império, baseado no domínio sobre os povos que até então haviam disputado a posse do vale, devia sua prosperidade ao tributo de 38 províncias, entre elas a de Soconusco, que, segundo o Código Mendoza, tributava 400 cargas de cacau das 980 que o Estado consumia.

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*Pirâmide de kulkukan, conhecida como "O Castelo", em Chichén Itzá, uma das
grandes metrópoles da civilização maia-tolteca, ao norte de Yucatã*


O VALOR DE TROCA DO CACAU NA SOCIEDADE MAIA

O cacau circulava desde armazéns especiais, chamados "casas do cacau", até os templos e quartéis militares, que representavam a grandeza imperial do México-Tenochtlitlã e suas cidades aliadas e onde, segundo os cronistas, os soldados astecas consumiam grandes quantidades de chocolate.

Entre os maias, à diferença da sociedade asteca, a elite política coincidia em geral com a elite comercial, e o cacau entrava na vida social graças ao comércio, e não como tributo. Em Yucatã o intercâmbio coexistia com uma produção equivalente de mantas, o que punha em relação de valor todas as mercadorias,inclusive certas terras, cuja produção era enviada ao mercado. Da necessidade de utilizar a mão-de-obra das comunidades camponesas nasceu a escravidão produtiva: os homens eram comprados e vendidos por cacau. Segundo Diego de Landa, o cronista dos maias de Yucatã, "o oficio a que mais estavam inclinados (era) o de mercadores, levando sal, roupas e escravos para as terras de Ulua e Tabasco, trocando-os todos por cacau e contas de pedras mais finas e melhores..."

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*Reprodução de uma cidade pré-colombiana antes da chegada dos espanhóis no séc. XVI*

O aumento da produção de cacau, graças aos escravos maias de Yucatã e também astecas, favoreceu provavelmente a circulação de cacau entre as classes baixas, sempre sob o controle da nobreza. Diversas crônicas coloniais e etnográficas assinalam que o cacau era usado como oferenda e doação nos ritos de passagem, como casamentos e funerais.

Que papel cabia ao cacau na acumulação de riqueza? Os grãos de cacau tinham que ser consumidos no prazo de um ano ou pouco mais. Mas as diferentes estruturas sociais dos astecas e dos maias determinavam também comportamentos diferentes a esse respeito. Assim, no vale do México, os comerciantes tinham que se mostrar muito discretos para não ofender o imperador com suas riquezas. Por isso, segundo Frei Bernardino de Sahagún, vestiam-se humildemente, inclusive com mantos rasgados. A cobiça da nobreza obrigava os comerciantes pochtecas a consumir seu cacau em grandes quantidades, a ofertá-lo nos templos ou entregá-lo como donativo.

No México, o cacau estava ligado ao prestígio e simbolizava uma posição social. Em troca, entre os itzas de Yucatã a riqueza do cacau, da qual faziam alarde os grandes senhores com seus numerosos escravos e seus palácios decorados com grande refinamento, servia também para estimular a produção, já que ele podia ser aplicado em cultivos comerciais e na aquisição de mão-de-obra. Por essa razão, provavelmente os espanhóis conservaram o uso monetário do cacau em Yucatã e substituíram a manta pelo Real, a moeda espanhola como medida de valor, sempre em relação com as flutuações da produção de cacau.

No entanto, ainda em pleno século XIX, o cacau seria utilizado para pagar salários em Yucatã e outras regiões da América Central, como se lê no testemunho do viajante norte-americano J. L. Stephens, em 1842: "Notei (...) que os grãos de cacau circulavam entre os índios como moeda. Em Yucatã não há moeda de cobre nem moeda menor que a de meio real (...) Como os salários dos índios são baixos e os artigos que compram são realmente necessários para a vida ... esses grãos de cacau ou partes de um meio real são a moeda mais comum entre eles."



*Fonte: O Correio da Unesco - Março 1990, Ano 18 nº 3

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Banco Central Anuncia Recolhimento de Moedas Defeituosas

O Banco Central anunciou nesta quinta-feira (20) o recolhimento de um lote de moedas de R$ 0,50 que foram fabricadas com defeito, e exibem o valor de R$ 0,05 na face. O problema foi reportado no Rio de Janeiro, e pode ter afetado um lote de 40 mil unidades de moeda. Esse número equivale a duas horas de produção em um equipamento da Casa da Moeda.

 

O Banco Central afirmou que as moedas com defeito não têm valor de circulação, e podem ser trocadas prontamente em qualquer agência bancária pelo valor individual de R$ 0,50. Os bancos devolverão as moedas defeituosas ao BC para substituição.

Na moeda com defeito, o reverso apresenta, no lugar de seu desenho característico, o desenho contido no reverso da moeda de R$ 0,05: linhas diagonais de fundo sobrepostas pelo número 5, correspondente ao valor facial, seguido das legendas “centavos” e “2012”.

A Casa da Moeda do Brasil informou que uma moeda de R$ 0,50 foi recebida como troco na cidade do Rio de Janeiro com o reverso estampado com a denominação de R$ 0,05. Exame pericial concluiu tratar-se de defeito de fabricação.

*Fonte: economia.uol.com.br

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Vintém Inédito de Cobre - 1822-R

VARIANTE NÃO CATALOGADA DE VINTÉM - ERRO DE GRAFIA

É com grande satisfação e alegria que fiquei sabendo que uma moeda de minha modesta coleção figurará na próxima edição do catálogo Bentes,  constando como referência para pesquisas futuras. É uma peça que comprei há alguns anos e que não consta nos catálogos mais conhecidos, como o de Arnaldo Russo ou o de Vieira: um vintém de 1822 - R (Rio de Janeiro) com a data emendada de 1821 com uma particularidade - a palavra "PECUNIA" está grafada erradamente.

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Já consta em catálogo outra variante, apenas do ano de 1821 com  o mesmo defeito - "PECUMIA" ao invés de "PECUNIA" - tendo o gravador trocado a letra N pela letra M, sendo inédita essa variante com a data emendada (cunho de 1821 reaproveitado para 1822).

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*Ver detalhe da palavra "PECUMIA"

Ainda saberei se ela já figurará na edição de luxo a ser lançada ano que vem, com impressão italiana e tiragem reduzidíssima de 500 exemplares. Até o presente momento sabe-se que esta peça é única. Esperemos novas aparições!!!

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Novo Catálogo de Moedas na Praça

CATÁLOGO OFICIAL DE MOEDAS BENTES



Saiu à luz, para nosso deleite, um novo catálogo que promete ser o melhor catálogo já produzido até então. Lançado no último Congresso Numismático, o catálogo será impresso em duas versões: uma standard e uma edição luxo (feita na Itália). A standard tem um número de aproximadamente 850 páginas e a edição luxo terá por volta de 1100, numa tiragem limitadíssima de 500 exemplares, numerados e autografados. Essa edição está prevista para o ano que vem. A primeira (standard) será editada todos os anos, com as cotações up to date.

O catálogo é bem detalhado, com todas as informações técnicas de cada peça, bem como sua tiragem e cotação. Serve, tanto aos iniciantes como aos profissionais da área e é confeccionado em carta patinata italiana de primeiríssima qualidade, possibilitando um manuseio agradável, seguro e duradouro. Segue abaixo um exemplo da primorosa descrição de suas peças:

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As imagens que passamos agora aqui, não chegam a revelar o primor, a dedicação e o empenho de todos os que trabalharam para levar aos colecionadores, um trabalho inovador, de conteúdo didático, voltado tanto para o numismata avançado, quanto para aquele iniciante.

Os preços de cada catálogo serão divulgados em breve, assim como os custos de espaço publicitário, inserido em apêndice, ao final do modelo standard (não incluiremos publicidade no catálogo de luxo).

domingo, 2 de dezembro de 2012

Leilão da Maison Palombo de Genebra

Seguem os resultados do último leilão que houve em Genebra (leilão nº 11 - lotes 137 a 144 e 781), onde apareceram peças da numária brasileira e uma portuguesa (dobrão de Minas Gerais com carimbo para circular na Metrópole), mas não deixando de ser peça importante na coleção de moedas brasileiras.

Estas foram as peças vendidas:



*Foto: SixBid

Lote 781: Finalizado por 32.000 francos (R$ 73.500,00) - Inicial: 25.000 francos (R$ 57.400,00)

Este belo dobrão de 24.000 Réis 1725 - MMMM foi carimbado através do decreto de D. Maria II de 21 de julho de 1847. Foi avaliada pela PCGS em AU-53 (Almost Uncirculated 53) e foi a peça entre as brasileiras e lusitanas a que atingiu maior valor no leilão (quase R$ 73.500,00).


*Foto: SixBid



Lote 138: Finalizado por 26.000 francos (R$ 59.700,00) - Inicial: 20.000 francos (R$ 45.900,00)

Esse belíssimo exemplar de VI Florins de 1646 foi um dos pontos altos do leilão chegando a quase R$ 60.000,00. Foi graduada pela PCGS em UNC Details, ou seja Flor de Cunho. É provavelmente um dos melhores, talvez o melhor VI Florins 1646 que existe, em relação à sua conservação.



Lote 139: Finalizado por 21.000 francos (R$ 48.200,00) - Inicial: 10.000 francos (R$ 22.900,00)

Essa peça de 12800 Réis do Rio de Janeiro (Letra R) tem a particularidade de ser data emendada, ou seja, 1731 sobre 1730 e foi a grande surpresa do leilão: iniciou por menos de R$ 23.000,00 e finalizou por mais que o dobro (mais de R$ 48.000,00). Classificada pela NGC em AU-58 (Almost Uncirculated 58), quase Flor de Cunho.


Lote 141: Finalizado por 2.200 francos (R$ 5.000,00) - Inicial: 1.500 francos (R$ 3.400,00)

Mais uma com data emendada: 4000 Réis 1824 R sobre 1823. Graduada pela PCGS em AU-58 (Almost Uncirculated 58), quase Flor de Cunho também.


Lote 143: Finalizado por 1.600 francos (R$ 3.700,00) - Inicial: 1.500 francos (R$ 3.400,00)

Interessante peça com erro, um 10 réis em bronze, com o anverso incuso no reverso. Quando uma moeda fica presa no cunho do reverso, o anverso dessa peça é cunhada sobre o reverso, deixando um "efeito espelho", a imagem incusa. Foi classificada pela Maison Colombo entre Soberba e Flor de Cunho.

Já estas a seguir não foram vendidas / licitadas:


Lote 144: Inicial a 12.000 francos (R$ 27.500,00)

A moeda de 1000 Réis (com Z - "Réiz") 1906, classificada pela PCGS XF Details (Extremely Fine) ou Soberba na nossa escala não houve lances;


Lote 140: Inicial a 7.500 francos (R$ 17.200,00)

A peça de 12800 Réis 1732 M (Minas Gerais), classificada pela NGC como AU-55 (Almost Uncirculated 55) - Soberba -  também saiu do leilão sem licitações;


Lote 137: Inicial a 3.000 francos (R$ 6.900,00)

Essa foi a única medalha brasileira do leilão e também saiu sem lances. Feita em estanho, comemora a vitória de Maurício de Nassau sob os portugueses entre 13 e 17 de janeiro de 1640;


Lote 142: Inicial a 600 francos (R$ 1.400,00)

Esse ensaio de 40 Réis de 1889 também saiu sem lances. Classificada pela NGC como MS-63 RB (Mint State 63 Red Bright) - Flor de Cunho com brilho original de cunhagem.

Fonte: http://www.abnrio.blogspot.com.br/ (Blog da Associação Brasileira de Numismática)
Matéria do nosso amigo Rodrigo Leite.

sábado, 1 de dezembro de 2012

01 de Dezembro - Dia do Numismata

DIA DO NUMISMATA

Aos amigos que compartilham comigo do prazer incomensurável de colecionar cédulas e moedas - incluindo também as medalhas, claro - deixo a lembrança e os parabéns desse dia que nos é especial. Feliz dia do Numismata !!!



Aos que não sabem o "porque" de ser hoje o Dia do Numismata, no calendário católico, hoje também é dia de Santo Elói ou Elígio (c.600-659 d.C), padroeiro dos numismatas - foi ele um mestre-moedeiro da frança medieval carolíngia, canonizado pela Igreja Católica. Também é padroeiro dos ourives e dos mecânicos.



Decisão Provisória mantém o "Deus Seja Louvado" no Real

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ENTROU COM UMA AÇÃO SOLICITANDO A RETIRADA DA FRASE "DEUS SEJA LOUVADO" DAS CÉDULAS DE REAL NO INÍCIO DE NOVEMBRO, MAS A JUSTIÇA FEDERAL NEGOU PEDIDO DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA.

Expressão 'Deus seja louvado' em nota de R$ 20 (Foto: Fábio Tito/G1)

*Frase "Deus seja Louvado" em uma nota de R$ 20,00* - Foto: Fábio Tito (G1)

A 7ª Vara de Justiça de São Paulo negou nesta quinta-feira, 29, o pedido de antecipação de tutela feito pelo Ministério Público Federal solicitando que a União e o Banco Central retirassem, em 120 dias de prazo, a expressão "Deus Seja Louvado" de todas as cédulas a serem impressas.

A juíza federal Diana Brunstein argumenta na decisão que "não foi consultada nenhuma instituição laica ou religiosa não cristã que manifestasse indignação perante as inscrições das cédulas e não há notícia de nenhuma outra representação perante o Ministério Público neste sentido. Entendo este fato relevante na medida em que a alegação de afronta à liberdade religiosa não veio acompanhada de dados concretos, colhidos junto à sociedade, que denotassem um incômodo com a expressão "Deus" no papel-moeda".

A decisão é provisória e o processo segue agora os trâmites normais. Não há previsão de quando a ação será julgada. O que foi negado nesta quinta-feira foi o pedido de antecipação de tutela, pois a Justiça interpretou não se tratar de algo urgente.

Um dos principais argumentos apresentados pela Procuradoria da República no Estado de São Paulo pedindo a retirada da frase é que o Estado Brasileiro é laico e, portanto, deve estar completamente desvinculado de qualquer manifestação religiosa.

Uma das teses da ação é que a frase "Deus seja louvado" privilegia uma religião em detrimento das outras. Como argumento, o texto cita princípios como o da igualdade e o da não exclusão das minorias.

Para a juíza da 7ª Vara Federal, "a menção a expressão de Deus nas cédulas monetárias não parece ser um direcionamento estatal na vida do indivíduo que o obrigue a adotar ou não determinada crença, assim como também não são os feriados religiosos e outras manifestações aceitas neste sentido, como o nome de cidades, exemplificativamente".

FRASE DESDE 1986

A inclusão da expressão nas cédulas aconteceu em 1986, por determinação do então presidente José Sarney, de acordo com informações do Ministério da Fazenda passadas à procuradoria. Em 1994, com o advento do Plano Real, a frase foi mantida pelo ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, supostamente por ser "tradição da cédula brasileira", apesar de ter sido inserida há poucos anos, diz.

Um dia depois de o MPF entrar com a ação na Justiça, Sarney criticou a situação: "Eu acho que é uma falta do que fazer, porque, na realidade, precisamos cada vez mais ter a consciência da nossa gratidão a Deus por tudo o que Ele fez por todos nós humanos e pela criação do universo. Nós não podemos jamais perder o dado espiritual. Eu tenho pena do homem que na face da Terra não acredita em Deus", disse o presidente do Senado.

*Fonte: G1.globo.com
http://g1.globo.com/economia/noticia/2012/11/decisao-provisoria-da-justica-mantem-deus-seja-louvado-no-real.html